segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

De volta à praia.

Os pés tocavam a areia fofa, que aos passos se moldavam a forma do pé, contornando de forma suntuosa e por vez ao retirá-los, marcavam as pegadas indicativas de que alguém havia passado por aquele exato local.

Aquele lugar não lhe era estranho, intimamente tinha a sensação de que já estivera ali antes, não sabia ao certo dizer quando, mas aquela areia e os coqueiros a vista no horizonte, traziam a Calvin uma paisagem da qual ele reconhecia. Os olhos insistiam em percorrer o local enquanto sua mente buscava em seu acervo memorial algo similar a aquela vista. Aos poucos o jovem alto e de cabelos negros caminhava sobre a praia sem rumo ou direção definida, mas espera um pouco... Acho que este trecho já foi escrito, não?

Os passos cessaram diante da imensidão de areia que existia a sua frente, aquele local era mais do que familiar, suas areias ainda carregavam as energias do 19 de março. Por um momento Calvin direcionou seu olhar ao horizonte, o mar carregava um tom de azul-anil de tirar o fôlego, ao contrário daquele dia o céu não carregava seu tom cinza da paisagem nublada, o sol brilhava e fazia arder a nuca daquele rapaz que jazia como bobo, sorrindo, parado em meio a imensidão, contemplando a brisa que fazia seu cabelo rechicotear em seu rosto. Havia algo além daquele sorriso, naquela face, seu olhar trazia um brilho intenso, que apenas uma alma tão humana poderia expressar, trazia um tom vivo e límpido do qual seu alter-ego jamais havia provado.

De repente, uma pontada lacerante atingiu Calvin na nuca, em reflexo sua mão guiou ao local onde logo palpava-se um inchaço, seu pescoço torceu quando seu ouvidos escutaram uma voz que logo foi identificada a quem pertencia.

- Atitude boba essa de ficar olhando o mar e sorrindo velho amigo! – O garoto moreno que um dia encontrou-se naquele local, agora encontrava-se sentado em uma pedra alta, com as bermudas dobradas nas barras, uma camiseta regada e um óculos escuro, com as pernas balançando de um lado a outro soltas no ar e tacando pedras no horizonte, como a que acabara de atingir Calvin na nuca.

- Creio que aprendi a ser bobo com certo alguém... Não acha? – Respondeu Calvin em aspecto de alfinetada.

- Então vejo que finalmente aprendeu algo de útil. (risos)

- O que traz a sua figura tão ilustre aqui hoje?

- O mesmo que me trouxe da última vez dear Calvin... As circunstâncias. – Por um instante Calvin teve a impressão de que o garoto olhava para outro local, virou o rosto para observar.

A alguns metros dali, pequenos pontos negros começavam a brotar em meio a areia clara. Pequenos filhotes de tartaruga agora saiam de seus ninhos e se arrastavam na direção do mar, como pequenos grãos que rolavam em meio a imensidão da praia, aquelas coisinhas tão esquisitas e desengonçadas agora partiam para encontrar a água. Não demorou muito para que em instantes toda a areia se cobrisse de pontos negro que caminhavam na mesma direção, como uma marcha que tendiam a alcançar seu objetivo.

- Consegue ver além das imagens Calvin?

- Pequenos seres que caminham ao horizonte?

- Sim Calvin, pequenos seres que caminham ao horizonte... Sabe quantos deles chegaram a vida adulta?

- Menos de um por cento.

- Lamentável não é mesmo?

Calvin preferiu não responder, por um instante desejou ouvir a reflexão do velho amigo.

- Não Calvin, não é lamentável. Independente se todos alcançarão seu objetivo ou não, é possível ver a intensidade com que essas pequenas tartarugas correm na direção do mar, a vontade da qual elas se inundam e se banham na intenção de viver. Elas mal sabem o mundo que as aguardam, um mundo frio, injusto, mas no qual sua doce inocência ainda espera que as acolham de forma quente e com afagos. Mas uma coisa Calvin, ainda assim elas querem viver, eles correm para viver e elas lutam para viver. Predadores? Esses realmente não faltaram, mas quem foi que disse que a vida tem que ser linda pra ser perfeita? O que mais importa neste momento é a força e a paixão que as motiva, viver é acima de tudo um ato de vontade, é preciso querer muito para ter algum resultado, mesmo que não o resultado do qual você aguarda ou espera, mas saber que no final você poderá olhar pra trás e contemplar os momentos pelos quais você passou, e agradecer por cada aprendizado que a vida lhe deixou. E fazer das cicatrizes das suas quedas pontos fortes para encarar novas quedas. O tombo é bom, balança as estruturas do ser, viver nas nuvens é leve demais, bom mesmo é caminhar, calejar os ossos, fortalecer as articulações, fazer o sangue correr nas veias e se sentir vivo... Você se sente vivo Calvin?

- Prefiro ficar em silêncio. Responder seria um sacrilégio à vida que habita dentro de mim, pois o real sentido da vida é não haver resposta, cada passo constitui-se de uma nova descoberta, se você sabe todas as respostas, pra que viver então?

Mais uma vez, num piscar de olhos aquele velho amigo não estava mais ao seu lado. Decidiu então continuar a caminhar, sem rumo, para quem sabe de surpresa, no caminho ele encontrasse algo de interessante.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Não diga sim, caso acredite no não.

Era manhã de quarta-feira, Calvin estava na sala de reuniões, toda a equipe reunida na decisão de um único projeto. Um projeto milionário, um contrato fantástico, anos de lucro pra companhia publicitária, apenas esse contrato fechado e a alavanca pro sucesso definitivo estaria fechada. Em pouco tempo a companhia se tornaria uma das maiores concorrentes do ramo... tudo dependia apenas de um contrato.

-... não tenho certeza se podemos fazer esse projeto, concordar com isso vai contra tudo que acreditamos! – As palavras de Calvin quebraram o completo silêncio da sala, todos carregavam um semblante preocupado, a tensão era visível entre as faces que contornavam sinuosamente a comprida mesa da sala de reunião.

- Call, é um contrato muito grande... talvez devêssemos deixar alguns valores de lado. É o sinônimo de sucesso para a companhia... – Elizabeth, diretora de marketing executivo, era uma mulher de baixa estatura, cabelos muito negros e lisos caiam sobre seus ombros, evidenciando um forte contraste com sua pele muito branca e seus olhos de cor azul-piscina.

- Beth... é grosseiro tentar contornar uma situação como essa, é insensato, é contra todos os valores de igualdade pregados pela companhia. Durante anos, muitos de nós trabalhamos duro sobre isso... aceitar é negar de onde viemos, de nossas bases, de nossas crenças. – Calvin apesar das palavras parecia conturbado e balançado com tal situação.

- Quem sabe conseguimos mudar a idéia do cliente... tentar que ele não seja tão conservador e rígido quanto a campanha... – Sugeriu um dos acionistas que se sentava no fim da mesa.

- O cliente foi claro... todos sabem o quanto conservador ele é. Inútil define sua proposta. – Respondeu o dirigente contratual.

- Rick? – Perguntou Calvin como uma última súplica, Ricardo era seu sócio, aquela decisão cabia a ele também...

Ricardo por sua vez nada disse durante a reunião, apenas permaneceu calado em sua cadeira, os olhos vidrados no meio da mesa, nenhuma palavra. Seu silêncio era frustrante, Calvin por um momento quis apenas tirar todo o peso dos seus ombros, sentiu-se só, sem saber o que fazer.

Calvin pediu que desse a reunião por encerrada, todos se levantaram e apenas os dois sócios permaneceram em sala.

- O que você tem a dizer? - Perguntou Calvin em tom de última vez.

- Nada! – Sem expressão aquelas palavras foram proferidas.

- COMO NADA? COMO NADA? ISSO É O FUTURO DE UMA EMPRESA QUE NÃO É SÓ MINHA, METADE DISSO AQUI É SEU... É UMA DECISÃO QUE TAMBÉM CABE A VOCÊ. – Calvin não conseguiu manter o controle.

- Calvin essa decisão traria tudo que nós sempre buscamos, a ascensão profissional que nós sonhamos desde que fundamos essa companhia... mas eu confesso que não sei. – O rapaz levantou-se, pegou sua pasta, deu um abraço no amigo... – Você sempre foi melhor que eu em tomar essas decisões difíceis, eu não sei o que fazer, mas eu sei que você vai tomar a escolha certa. – Assim seguiu até a porta e saiu da sala.

Calvin jogou-se sobre sua poltrona, naquele momento sua mente vagava sem saber pra onde ir. Foi para casa, no dia seguinte iria dar sua resposta e apresentar o projeto aos clientes, precisava decidir-se, preferiu ir dormir, mas o sono decidiu fugir, caminhou em círculos no quarto durante quase a noite inteira, quando finalmente conseguiu dormir, seu relógio despertou avisando que era hora de ir a agencia. Vestiu-se e dirigiu-se até lá, no caminho não olhou pra nada, não viu nada.

Seu estômago embrulhava no elevador, as pontas de seus dedos estavam completamente geladas, sua respiração era lenta, tudo parecia passar em câmera lenta, ao entrar no hall os clientes já estavam prontos para a reunião, Ricardo o aguardava na porta da sala. Ele olhou pra Calvin, que balançou a cabeça em tom de confirmação. Todos entraram na sala. Calvin e Ricardo começaram a apresentar o projeto, o contrato seria fechado.

Até que...

- Para. – Disse Calvin a Ricardo no meio da apresentação.

Ricardo não disse nada, apenas interrompeu sua fala.

- O que está acontecendo? – Perguntou o cliente, um senhor baixo, de aparência robusta e quase sem pescoço, careca e tinha as bochechas rosadas.

- O que está acontecendo Sr. Drumstrang, é que infelizmente nossa companhia não pode atender a suas exigências. Eu realmente peço-lhe mil desculpas, mas não poderemos manter a campanha em tal padrão. Sinto muito.

Nada mais foi dito, Ricardo sorriu para o amigo. A reunião deu-se por encerrada.

Muitas vezes nos submetemos a atitudes das quais não concordamos, nos sujeitamos a aceitar condições das quais não nos satisfazem. A todo o momento traçamos planos, e para realizarmos estes, esquecemos de quem somos verdadeiramente, daquilo do qual somos feitos. Deixamos crenças de lado, valores de lado, sentimentos de lado em nome do profissional, do ético e do sonho. A razão é a nossa melhor amiga, não vá de contra a ela, não seja tão duro com você, antes de tudo respeite-se, você pode mais do que realmente acredita. Nunca saberemos o que acontecerá no futuro, por mais que tudo seja planejado, chegará um momento em que você obrigatoriamente terá que fazer escolhas... talvez nesse momento pouco importe o que você acredita ou o que os outros acreditam, você priorizará o resultado, mas não se esqueça que talvez, no futuro, você se envergonhe quando olhar no espelho e não se reconhecer, não se transforme em quem você não é, nem ao menos tente, pois lá no fundo, na sua consciência você continuará do mesmo jeito, não importa o quanto minta pra si mesmo, é inútil.

E mesmo que o sonho venha a ser interrompido por uma não escolha, ou por uma escolha, não se arrependa, pois nossos sonhos só se tornam realidade quando são nossos, viva ele, não construa outra pessoa para viver nele.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Permita-se...

9:00 horas da manhã. Calvin acabara de entrar no escritório do Dr. Berto Santana, deitara diretamente no divã, aguardando para o início da seção. O Dr. Berto entrou na sala trajando de suas vestimentas de sempre, a camisa social em tom cinza e a calça preta, os óculos esguios depositados na metade do eixo nasal, a planilha em seu colo e a caneta pronta para suas rotineiras anotações.

Calvin apanhou uma maça na fruteira ao lado do divã, a observou por um período e logo lhe deu uma abocanhada com força, em sua frente a velha estante de livros. Percorria os olhos na esperança de achar o título que lhe promovesse a começar sua análise. Não encontrou...

- Sem idéia de por onde começar? – Indagou o doutor.

- Procurando a melhor forma... – Respondeu o rapaz sem mais delongas.

- Comece pelo começo, cru e sem teatralidade. – Opinou Dr. Berto sem tirar a caneta e os olhos do papel.

Era sexta-feira, noite, Calvin havia se aprontado para sair, um pub novo havia sido aberto na cidade e por ventura fora presenteado com entradas para a inauguração. A noite não prometia muita coisa, as últimas noites haviam sido monótonas e sem nada demais, não lhe parecia que esta seria diferente. Chegou ao pub e sentiu a vibração do lugar, inúmeras pessoas procurando por uma noite de prazer e diversão ao mesmo tempo, exalando feromônios em seus jogos de sedução e conquistas, olhares sendo trocados e drinques sendo tomados. Dirigiu-se ao bar e logo em seu azar uma moça muito bonita, morena, de cabelos negros e olhar profundo esbarrou-se em Calvin, derramando sobre ele um copo de Campari que logo transformou um pedaço de suas veste na cor vermelha.

- Perdão... me desculpe, por favor me desculpe. – Suplicou a moça, que ao olhar o rosto de Calvin sorriu, com o sorriso veio uma cova em sua bochecha da qual não pode deixar de ser notada por Calvin.

- Tudo bem, eu trouxe uma jaqueta e pela temperatura sei que vou usá-la – Respondeu ele.

A mulher vez menção de quem iria puxar assunto, porém Calvin lhe deu as costas e seguiu para o balcão. Após alguns drinques e olhares, sentou-se, ao seu lado sentou-se também uma mulher loira, em seus fartos lábios depositava-se um batom de tom vermelho, tal que contrastava com o tom muito branco de sua pele, seus olhos carregavam um tom de malícia e suas mãos percorriam o contorno da taça de Dry Martine por ela carregada [...]

[...] as luzes encontravam-se no estado de penumbra, pelo quarto as roupas estavam espalhadas, dois corpos nus traçavam uma dança, num ritmo forte, sobre a cama. “Eu te amo”, “Como não te encontrei antes?”, “Em que mundo você se perdeu?”, “Você é meu mundo”... as vozes se misturavam na mesma medida que as línguas, as peles ardentes se tocavam, trocas de carícias deixavam seu cheiro pelo ar, o suor evaporava sobre a pele, os cabelos se trançavam entre os dedos, as respirações se uniam na mesma freqüência.

Logo amanheceu, Calvin encontrava-se deitado sobre as cobertas, olhos fixos no teto, sua mente vagava por um lugar não identificado, seu olhar era vidrado como de quem acabara de usar entorpecentes. Um suspiro atrapalhou o momento de silêncio, a mulher colocou-se sentada a borda da cama, levantou e vestiu-se. Calvin a olhou se vestir, sem expressão, sem diferença, sem emoção. Ela entrou no banheiro e o rapaz continuou em sua posição, sem mover-se, exceto pela sua respiração, qualquer um poderia jurar que ali jazia um homem morto. Até que Calvin levantou-se, dirigiu-se até a sua calça, a garota saíra do banheiro, Calvin abriu sua carteira, apanhou as notas e entregou-lhes.

- Você acredita que seja capaz de amar Calvin? – Indagou Dr. Berto.

- Não.

- E o que te leva a pensar dessa maneira? – Indagou novamente o doutor.

- Nada, eu cheguei a esta conclusão sem caminhos, meu coração é frio, não consigo imaginá-lo entregue a alguém. – Respondeu o rapaz sem pausa.

Calvin saiu do escritório e dirigiu-se ao estacionamento, mais um dia perdido com meras análises, nada de proveitoso retirado de seus pensamentos. Era hora de voltar à agência, Ricardo estaria o esperando para terminar o projeto da Clorosoda. Quando cruzou a saída do prédio assustou-se com uma moça que vinha em alta velocidade e falando ao celular, em instantes o esbarrão não pode ser evitado, a mulher carregava um copo de café nas mãos, que derramou sobre sua blusa branca.

- Perdão – Disse Calvin... no momento em reconheceu o rosto fino, moreno e de cabelos negros.

- Acho que estamos quites... – Sorriu a moça, seus olhos pareciam ônix quês brilhavam ao sol, sua cova na bochecha fora notada. Seu sorriso era leve e mal pode notar que naquele mesmo instante o próprio Calvin estava sorrindo.

Caminhou até o carro, quando entrou olhou pelo retrovisor, ficou alguns instantes olhando ela caminhar, até que decidiu sair do carro. Correu atrás dela...

- É... já que derrubei seu café. Será que posso lhe pagar outro? – Perguntou Calvin com as bochechas completamente coradas.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Foda-se tudo, foda-se o mundo, eu quero me manifestar.

Hoje, no dia 2 de junho de 2011, mais uma notícia de um crime vem a tona. A blogueira Lola Aronovich foi vilmente ameaçada por uma figura pública da mídia televisiva chamado: Marcelo Tas. Um crime contra a liberdade de expressão e o direito a opinião pessoal da blogueira, no qual, Tas utiliza, em toda a sua arrogância e prepotência, para ameaça-la a um processo, no qual possui em sua defesa a assessoria de umas das maiores redes de comunicação do país, por conta de Lola ter expressado sua opinião em relação ao posicionamento machista, preconceituoso e desrespeitoso dos participantes do programa CQC, da rede Bandeirantes, que tornam em sua jornada um incansável apelo por audiência, utilizando dos piores métodos de humor em fazer piada com as minorias e contra o direito de tudo que não seja o direito deles próprios.

Todos os dias, a qualquer momento, mulheres são violentadas, crianças são abusadas, gays são covardemente espancados, negros são humilhados e desrespeitados, nordestinos são marginalizados e descriminados e a dignidade das pessoas são feridas de forma agressiva e desrespeitosa no Brasil e em todo o mundo. E o que é feito? “NADA”, com todas claras e legíveis letras, nada. O direito a liberdade, o direito de escolha, o direito de possuir todos esses direitos são transformados em apenas teoria, pois sua prática é friamente descriminada e desrespeitada pela parte da sociedade que se diz normal e detentora do controle desses direitos. O cidadão cada vez mais encontra-se só, sem apoio do governo, da justiça e principalmente sem apoio dos humanos.

Nos acostumamos a estar acostumados com tudo, nos permitimos ser calados, deixamos que eles pisem nos nossos direitos o tempo inteiro, e não fazemos nada baseados no pensamento de que “uma andorinha só não faz verão”, mas enquanto nenhuma andorinha resolver se manifestar e fazer o verão, todos viverão em eterno inverno por toda a sua medíocre e hipócrita vida. Todos os dias nos indignamos ao assistir um telejornal, ou ler notícias na internet sobre atrocidades cometidas, as vemos serem cometidas contra nossos semelhantes, mas nada é feito para mudar essa situação, as pessoas preferem manter as suas bundas gordas e fedidas em cima de um sofá, do que sair as ruas para protestar. E quando um protesto de fato acontece, ainda assim, nada será feito, pois seus próprios semelhantes estarão sentados, os assistindo e comentando que eles não vão a lugar algum.

Então eu te pergunto caro leitor, onde foi parar a merda do seu amor próprio? Por que você continua sentado enquanto o seu direito é violado? Enquanto o seu dinheiro é roubado, enquanto a educação do seu filho é de péssima qualidade e você é obrigado a pagar uma escola particular, pois a pública que você sustenta com o seus impostos é uma merda, porque os seus governantes fazem farra com o seu dinheiro e mandam seus filhos estudarem fora do país com o seu dinheiro? Compram os melhores carros com o seu dinheiro, enquanto você é obrigado a enfrentar um transporte público de péssima qualidade?Moram em casas maravilhosas compradas com o seu dinheiro, enquanto você sua para pagar o aluguel ou a prestação do seu imóvel? Até quando você vai aceitar isso de braços cruzados?

A resposta é: até sempre, eu sinceramente cansei de sonhar com uma sociedade exemplo, e você, tanto quanto eu, tem culpa pela morte desse sonho. As pessoas continuarão humilhando as minorias, as mulheres continuarão sendo tratadas como carne descartável, e você continuará otário bancando a boa vida de deputados, senadores, vereadores, prefeitos e toda essa corja de vagabundos, indignos de estarem exercendo tais cargos. A crescente onda de conservadorismo que cresce no país, continuará nos afundando cada vez mais, pra uma sociedade sem escrúpulos, sem leis, sem direitos e sem dignidade, até o dia que gays irão se revoltar e atacarão héteros pelas ruas, que mulheres passarem a caçar homens em bando para torturá-los e emasculá-los, que negros agredirão brancos e criarão lugares onde a entrada dos mesmos será proibidas, quando judeus resolverem armar-se e atacar neo-nazistas brancos... quando crianças começarem a cometer suicídio para não ter que viver em meio a esse lixo de lugar que se tornará o mundo. Esse é o nosso caminho, esse é o nosso progresso, é pra isso que parece que estamos caminhando.

A vontade das pessoas não pode ser calada, mas ela é. O direito das pessoas não pode ser violado, mas ele é. As pessoas exigem respeito, exigem boa conduta, mas ela não é dada como exemplo, somos ordenados o tempo todo do que fazer, o quanto pagar, o quanto comer, o que vestir, e aceitamos tudo sem contradizer, mesmo quando tudo contradiz a nossa vontade. Eu cansei disso tudo, eu cansei de viver nessa sociedade e sei que em algum momento, alguém terá força suficiente pra lutar por mudança, eu espero estar vivo neste dia para poder, quem sabe, participar dessa luta, mesmo talvez tendo a derrota como resultado, mas apenas pelo poder de lutar.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Morra jovem ou viva para sempre.

Sábado pela manhã, o dia comum à faxina, dia de arrumar a casa, por tudo em ordem para uma nova bagunça. Transcendente o pensamento de limpeza, para logo o cheiro do limpo começar a invadir o ar, deixando tudo com cara de novo, pronto a viverem novas coisas e a serem desorganizados novamente.

Nada mais que uma manhã é necessária, acordar as oito e após o café começar. Se tudo ocorrer bem, antes mesmo do almoço estará em completa e perfeita ordem, se apenas uma coisa não ocorrer. Se por um acaso, você separar alguns objetos dos quais levará à dispensa, onde já se encontram pilhas de objetos descartados, mas dos que você ainda guarda um sentimento muito forte - sim as coisas possuem sentimentos - aquela jaqueta velha com cheiro de guardado que o diga, nos enche de remorso à jogá-la fora, aquela jaqueta que nos protegeu do frio por tanto tempo, quente e acolhedora... Deixemos a jaqueta de lado e tornemos o foco pro real empecilho. Então por um acaso, um mero acaso, você encontrará uma caixa guardada, rotulada com a palavra certa para acabar com o cronômetro da sua faxina: “Fotos”.

Você não conseguirá resistir, em instantes arrastará a caixa para sala, ao abrir será inundado por inúmeros álbuns para decidir qual olhar primeiro, percorrerá alguns até achar aquele que lhe trará lágrimas, encharcando suas pálpebras de emoção, o álbum do colegial, rever as fotos dos tempos de ensino médio, rever rostos, dos quais sua mente já não recordava a muito tempo, será doloroso, mas prazeroso, também nostálgico. Tantos rostos felizes, tantos sorrisos estampados, olhares sinceros, juventude transbordando nas cores da fotografia. Bons anos, talvez os melhores anos.

Mas além das lembranças, dos amigos perdidos pelo tempo, da vontade de viver tudo outra vez, o que mais te corroerá será sua própria mudança. Enxergar o quando você mudou não será fácil, talvez seja a tarefa mais difícil. Tantos sonhos, vontades e exigências deixadas para trás, ver o quanto foi perdido de sua adolescência, perceber o quanto a vida te fez pessimista. Sentiremos falta do desejo de mudar o mundo, perceberemos o quanto deixamos que os problemas e as desilusões nos fizessem desacreditar no poder de mudança, estaremos mais resistentes a mudanças e quando não acreditamos nela, deixamos de acreditar nas pessoas.

Com tudo isso, deixamos de acreditar em nós mesmos, deixamos sonhos serem jogados ao vento por medo de tentar, nos acomodamos a viver como a vida nos levou, mas esquecemos de que fomos nós que construímos a vida, quando somos adolescentes, acreditamos que tudo pode ser alterado, que com esforço poderemos superar todas as pedras no caminho, mas no caminho aceitamos desvios por preguiça de tentar retirar as pedras de sua frente. Moldamos-nos à sociedade, deixamos de ver que ela tem a obrigação de moldar-se a nós, nos tornamos escravos do capitalismo, perdemos o desejos de igualdade e de melhorar o mundo, buscaremos apenas a ascensão própria, nos dedicaremos fervorosamente ao trabalho e muitas vezes iremos esquecer de ser felizes.

Repreenderemos os jovens, chamando-os de sem sentido, recriminando seus gostos e criticando suas atitudes como irresponsáveis, jovens têm que ser irresponsáveis mesmo, aproveitar até que a vida não lhe transformem em pessoas frias, mesquinhas e egoístas. Todavia iremos esquecer o quanto era bom ser irresponsável, o quanto era bom não ter sentidos, ser rebelde apenas pelo fato de ser do contra, e o quanto era ruim ser repreendido pelos mais velhos, no entanto faremos o mesmo. “[...] você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo, são crianças como você. O QUE VOCÊ VAI SER, QUANDO VOCÊ CRESCER.”

Talvez felizes sejam os que morrem jovens ou os que descobriram o caminho para a Terra do Nunca, crescemos tanto que perdemos o sonho de voar com Peter Pan e Wendy, viajando pelos céus para viver pra sempre, já que não podemos viver para sempre, diremos muitos nunca, perderemos a frase “nunca diga nunca” que tanto proferíamos quando jovens. Envelhecer sem um propósito é como sacrificar um cavalo inútil, a juventude é preciosa como um diamante, mas a vida nos faz vende-la devido ao seu alto valor.

Vamos ver anos simplesmente passarem e as rugas aparecerem, e nada faremos para realizar aqueles sonhos mais internos, tão internos que você nem se lembra mais, mas eles ainda estão ali, alimentando as lembranças, mas não mais prontos para serem realizados, não por serem impossíveis, mas por seu dono não julgar-se mais capaz de torná-lo real. Mataremos o desejo sem piedade, friamente como um serial killer, e como tal marcá-los-emos para que mais tarde nos corroa por sua não presença. O ser humano além sadista é também masoquista, gosta de provocar a dor própria.

Depois da enxurrada nostálgica, você se dará conta de que nem tudo ainda esta perdido, as coisas podem ter um novo começo, mas logo deixará de lado, pois você já não acredita mais na mudança, perdeu a fé nas pessoas, perdeu a juventude. Estará mais forte, mas eles não te chamaram de liberdade, e você não será uma bandeira trepidando ao vento.

sábado, 7 de maio de 2011

Bad Reputation.

Era um sábado a noite, como manda a regra, Calvin se aprontava para a noite, que pelo visto prometia ser maravilhosa. Tomou banho e logo se deparou com o dilema frente ao guarda roupa, perguntando-se o que vestiria, optou por fim a um jeans skinny, básico, um All Star branco, uma camisa também branca com desenhos de fones de ouvido caído envoltos ao pescoço e usou uma camisa de botão, azul-xadrex, como colete, borrifou um pouco de seu perfume, Kouros, e logo seguiu para o carro.

Chegando à boate, alguns amigos já aguardavam do lado de fora, reconheceu alguns rostos conhecidos e pessoas do ramo de entretenimento, alguns lhe chamaram bastante atenção e algo indicava que essa noite não seria apenas mais uma noite. A festa começou. Conversas, risadas e entre tudo inúmeros copos de roskas, dos mais variados tipos de frutas exóticas, a energia do local era contagiante, o papo agradável e os flertes eram fortes, por longas horas o estado de êxtase tomou conta dos presentes, junto com ele alguns excessos. Por volta de algumas horas a demasia de álcool acabou afetando alguns, inclusive Calvin.

Porque o problema? Isso é apenas diversão e talvez não haja nenhuma conseqüência; Talvez. A beberragem fora suficiente para que depois de algumas horas o publicitário iniciasse alguns vexames, as vestimentas rasgadas e os pés descalços deturpavam a imagem de executivo presente em seu porte, cenas de beijos quentes, fala alterada e por fim Calvin não tinha mais controle sobre si mesmo. Alguns amigos o levaram para fora da festa, a qual já se encontrava em presença de alguns fotógrafos, Calvin não tinha condições de dirigir, mas acabou fazendo-o, a poucas quadras do local, bateu o carro e logo estava prestando depoimento numa delegacia. A noite fora longe demais.

Diversão é ótimo, mas quando se possui controle sobre o que se faz, responsabilidade é algo que deve estar presente na vida de todos. Muitas vezes as pessoas se deixam levar por presença e influência de outros, exageram em brincadeira e utilizam de alguns artifícios para complementar sua diversão, mas sem controle: a diversão pode acabar se transformando em preocupação.

No domingo, a notícia estava em vários jornais, “Publicitário abusa de bebida e causa acidente.”, acredite, essa foi a mais comportada manchete, alguns mais sensacionalistas acusavam até mesmo o uso de substâncias ilícitas. Não era verdade, mas e daí? Eles não estão preocupados com isso, ou melhor, as pessoas não se preocupam com os meios, na maioria das vezes apenas o fim será analisado. E sim, elas utilizarão dos meios mais sórdidos, se for preciso manchar a imagem de alguém ela será manchada, todos querem ver a sua queda, pessoas não estão acostumadas a lidar com a felicidade do outro. Elas irão assistir sua queda, rir da sua queda, e depois fingirão que nada aconteceu, mas sempre estarão ali para jogar na sua cara mais uma vez. E não importa qual a reputação que você tivera antes, eles ligarão apenas para a que você tem agora, e um único e pequeno fungo será suficiente para estragar toda a fruta já colhida.

Na segunda-feira pela manhã Calvin seguiu para a agência, alguns repórteres estavam posicionados na entrada, entrou pelos fundos, em silêncio e seguiu para a sala de reuniões onde acionistas e diretores o estavam esperando, seu coração palpitava no elevador, ele sabia exatamente o que irão propor, não sabia se estava disposto a isso. Ao entrar na sala o semblante de todos era de seriedade, nenhum sorriso, nenhum comentário, completo silêncio. Calvin não os cumprimentou, caminhou até sua mesa e olhou para Ricardo, o mesmo desviou o olhar para baixo. Sentou-se em seu lugar e em sua frente encontrava-se sua carta de afastamento temporário. Foi um baque, a realidade foi dura e o acertou em cheio no peito, era sua empresa, a qual ele ergueu e tocou em cada tijolo ali colocado. Olhou novamente à Ricardo.

- Eu não vou me afastar! – Disse em claro e bom tom.

Os murmúrios irromperam pela sala.

- Você precisa Calvin, pelo bem da agência... – Ricardo demonstrava em sua fala o seu tom de lamento.

- Não. Eu sou dono disso aqui , não vou abandonar o que eu construir pelos outros, todos conhecem o quanto somos profissionais e o quanto somos competentes... você esteve comigo durante todo esse tempo, sabe quanto demos duro para construir o que somos hoje... – logo fora interrompido.

- Você conhece o entretenimento melhor que muitos de nós Calvin. Imagem é tudo, e a sua está manchada. – Julian, uma das acionistas, se proferiu em relação a posição de Calvin.

De fato, era verdade, uma imagem vale mais que mil palavras, não é a toa tal provérbio, tudo depende disso, as pessoas precisam disso para lhe respeitar, é para o seu externo que elas irão olhar e se algo estiver errado ou diferente, irão lhe julgar sem piedade, não se colocarão em seu lugar, ele não querem saber o que você passa e nem o que você sente, seu único interesse é a opinião própria, precisam de uma imagem pra admirar, pra alegrar, pra entristecer, pra pisar. Todos buscam isso, todos querem isso, querem a sua imagem, mas o que não restringe que eles apenas liguem para a própria, de jeito nenhum, o melhor entretenimento deles é ver a imagem do outro, a vida alheia é muito mais interessante que a sua e esse, talvez, seja o problema, preocupar-se demais com os outros e esquecer de si próprio, Maria Madalena estava prestes a ser apedrejada quando Jesus disse que atirasse a primeira pedra aqueles que não tinham pecado. Ninguém atirou, mas todos queriam. Pare um pouco, viva mais a sua vida e deixe os outros viverem as deles, se cada um se preocupasse menos com a vida do outro talvez o mundo fosse um lugar melhor, com mais respeito, mas liberdade, mais justiça, no entanto as pessoas preferem deliciar-se com os devaneios alheios, uma peça de teatro da vida real, um reality show pronto para audiência a todo o momento. Respeite-se mais, você vale mais que os outros.

A reunião prosseguiu, e Calvin como maravilhoso publicitário, conseguiu convencer a todos a aceitarem sua proposta, no dia seguinte, dera uma entrevista esclarecendo tudo que havia acontecido, mas nem tudo era real, Calvin mentira descaradamente para se safar de tudo, convenceu a todos que era inocente enquanto suas mãos estavam sujas de sangue. É errado? É Imoral? Sim, mas é isso que nós fazemos, mentimos, pois por mais que digamos que não ligamos para nossa má reputação, nós ligamos. E faremos de tudo para ser exemplo, para ser o melhor... mas que melhor, o melhor pra você? Não. O melhor pros outros.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Bagunça.

Era um dia bastante comum, Calvin encontrava-se, as 7:30, em seu Volvo preto, parado num enorme engarrafamento à caminho da agência de publicidade. Sozinho, dentro do carro, cansou de escutar o locutor da rádio falando inúmeras coisas sem sentidos e bordões démodé. Resolveu colocar uma música, abriu o porta luvas e apanhou o porta CD’s, entre eles: Goodbye Lullaby, Riot!, Funhouse, Back to Black, 21, mas nenhum deles conseguiu lhe chamar atenção hoje, decidiu então apanhar uma coletânea de mp3 que havia feito essa semana com inúmeras músicas. O CD começou a tocar, mas não conseguiu encontrar a pasta certa, nenhuma te agradava ou não era o suficiente, até que uma idéia veio bem rápida.

Mecheu um pouco nas configurações do som procurando uma função específica, tinha que ter, tinha que ser assim, até que finalmente conseguiu ativar o modo de reprodução aleatória, e as faixas ficaram completamente emboladas, sem nenhuma cronologia, sem nenhum modo de reprodução exato e padrão, uma bagunça, uma mistura, um emaranhado, um bucado de tudo e um pouco de nada, porém exatamente perfeito, na sintonia.

-É isso... – repetiu para si mesmo.

Uma bagunça, uma mistura, sair um pouco da vida certinha e planejada de sempre, abandonar a cronologia dos compromissos e a ordem da agenda, fazer tudo virar uma bagunça. Quem sabe no emaranhado, por acaso, você não encontre o que realmente deseja. Quando se planeja também se extingue a oportunidade de coisas darem errado, e sem erros não á aprendizado, fora dos planos não há surpresa, não há descoberta e sem descoberta não há vida...

CARALHO, MERDA, PORRA, INFERNO... Palavrões, feios, horríveis, indiscretos e nada educados, mas porque não proferi-los se é o que a raiva pede? Porque as pessoas acham feio? Que fodam-se as pessoas, quem te ama será feliz contigo, e convenhamos que fora da rotina fica bem difícil encontrar essas pessoas, elas sempre aparecem nos momentos mais bagunçados possíveis, e se não, se tornarão os melhores amigos e os melhores companheiros quando o momento estiver mais conturbado. A vida é feita de momentos, avulsos, seguidos, sem cronologia... Porque querer contradizer a ordem natural das coisas então?

Vamos fazer diferente um pouco, vamos mudar, fazer tudo que der vontade, sem precisar repreender nada, extravase, fure o balão, deixe o ar escapar depois respire novamente e sinta o mundo, tente abraçá-lo mesmo sendo impossível, mas tente, tente e tente. Tente arrumar a bagunça, mas sempre deixe um pouquinho, uma vida certa e arrumada não tem graça, tudo que é estranho será notado, sendo que o melhor é ser pego de surpresa, se não fosse, você sentiria cócegas quando faz em sim mesmo, no entanto só faz efeito quando outro faz, e se não faz, finja que faz, não há nada de errado em fingir de brincadeirinha, sem compromisso, gostoso como uma noite com alguém desconhecido e de preferência bêbado, sim, para que não falte coragem de fazer nada, deixe a bagunça tomar conta.

Remexa tudo, mergulhe fundo em meio ao turbilhão, talvez lá você encontre a tão procurada felicidade, que todo mundo procura, mas não entende que é ela que te acha. Vá, deixe ela se mostrar, desembrulhe-a da folha de papel amassado, admire-a, veja como pode ser linda, veja como se encaixa perfeitamente com você.

No meio do caminho Calvin resolveu fazer um percurso diferente, foi para a ‘praia’, mas praia, sempre praia, toda vez tem praia, mas a praia nunca é a mesma, o mar nunca vai estar no mesmo lugar, a areia não estará da mesma forma, e o sol brilha em intensidade diferente, se acaso esteja igual, o dia é diferente. Entenda o que digo: todos os dias são novos, e nunca é tarde para fazer uma nova bagunça e tentar agir de forma melhor.

E não há nada melhor do que percorrer a bagunça, achar pacotes de biscoito velhos, cartinhas, canetas, papeis e cadernos antigos, carregados de lembranças de uma vida, páginas passadas que fazem tanta falta, ou não, mas jamais serão esquecidas e sempre ajudarão a completar a bagunça, ocupando espaço e dando trabalho, mas que bagunça gostosa e sem sentido, mas pra que sentido? O bom mesmo é interpretar...


terça-feira, 19 de abril de 2011

O bom amigo à casa torna.

Eram 7:32 da noite, Calvin acabara de fazer os sashimis e bolinhos de arroz para servir as visitas, tomara um banho e agora escolhia as melhores peças a vestir, fez a barba e se aprontara para jantar em alguns instantes. A campainha não tardou a tocar e quando a atendeu ela estava lá em sua frente, os cabelos não mais longos na cintura, cortados na altura dos ombros, lisos e com a franja em cima da testa, um vestido estampado e leve contornava sua linda pele branca e macia, um sorriso no rosto e olhos carregados de maturidade em lugar de inocência.

- Clarice... que saudade! – disse Calvin abraçando-a, sentindo seu aperto e um sentimento de que tudo estava bem, era confortante reencontrá-la.

- Call, que falta sinto sua.

- Não aparenta, abandonou-me ao vento... – disse Calvin em tom brincalhão, era impressionante que todo o ressentimento que tinha com Clarice de repente desaparecera, era impossível ficar triste com ela por perto.

Os dois entraram, Calvin foi até a adega e escolheu por um Hermitage La Chapelle da safra de 1961, serviu-se e os dois começaram a conversar. Durante a conversa foi inevitável perceber que por tudo que houvera acontecido, a amizade entre os dois ainda era forte, talvez seja porque amigos são para sempre, e não importa o que aconteça, eles devem estar sempre ao lado, prontos para lhe estender a mão e lhe ajudar, isso é ser amigo.

Durante o meio tempo, Calvin entendeu que: as pessoas têm seu tempo, precisam de sua independência, tomar suas decisões amadurecer, e não se pode cobrar de alguém que ela esteja sempre ao seu lado, por muito, deixamos de lado alguns, talvez seja o momento, talvez seja necessário, mas uma certeza, isso é vida, ela precisa ser vivida e precisamos entender que cada um tem a sua, é egoísta querer controlar o outro. No entanto lembramos que o outro nos ama, mesmo que não na mesma intensidade com a qual o amamos, mas nos ama e amor é sempre bem vindo.

-...coisas do meu jeito sabe, sei lá, eu me sinto bem. Ver as coisas com clareza fazem eu me sentir mais segura.

Era muito gratificante ver o quando Clarice havia amadurecido durante todo esse tempo, incapaz de não sentir-se satisfeito. Um amigo é uma coisa preciosa demais na vida de qualquer pessoa, não deixe que pequenas coisas possam interferir em uma amizade, mesmo com todos os problemas, o perdão por algumas coisas é necessário, muitas vezes não há exatamente o que ser perdoado e sim o que ser compreendido, mas julgamos tudo apenas por um único e próprio ponto de vista. Se ponha mais no lugar do outro, tente viver e pensar mais como o outro, deseje, ao outro, coisas que deseja a ti mesmo, seja mais compreensivo e passional com os problemas, valorize mais as qualidades e momentos bons.

Conversa vai e conversa vem, a campainha tocou novamente, era Jude que logo entrou em casa, correu ao abraço de Clarice a qual fazia tempo que não via.

-Trouxe vários filmes pra assistirmos após o jantar... pelo visto já começaram o papo sem mim, ninguém lembra de mim, sempre me deixam pra trás, nunca me esperam... – E logo começou a falar, Clarice a ouvia com entusiasmo e Calvin logo teve em memória alguns momentos antigos. Discretamente foi bem próximo as duas e as abraçou de surpresa.

E você? Já disse “eu te amo” a quem você ama hoje?

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Fale o bem, faça o bem, acredite no amor.

O telefone já havia tocado inúmeras vezes, no celular 8 chamadas não atendidas, Calvin tinha acabado de jantar e agora jazia em seu sofá com as belas pantufas e hobby marrom-tijolo, mas hoje definitivamente não iria atender Clarice. Sabia exatamente o que aconteceu e a intenção das ligações, mas hoje não. Hoje ele seria mais Calvin, chega de dar a mãos aos outros na tristeza e não compartilhar da mesma mão em alegrias. É hora de deixar de ser um pouco altruísta e começar a valorizar o que de fato lhe faria bem, não se envolverá mais com os problemas alheios, sem nunca ouvir um obrigado.

Fazia tempos que Calvin ligara para Clarice desde o seu último problema, passou dias em claro e chegou a deixar de lado sua própria vida e problemas para ajudar aquela que lhe chamava de amigo, ajudou-a no seu momento de fraqueza, converteu o problema alheio em seu, comprometendo seu trabalho e sua vida pessoal, lhe estendeu a mão e não foi a primeira e nem a segunda vez. E após todo o turbilhão recebera em troca o esquecimento, lembrado apenas no próximo fado.

Um único sentimento saltava em seu peito, ácido, triste, porém real, era como se fosse apenas um amigo para momentos ruins, aquele que aconselhava, que levantava e que muitas vezes ele próprio tirava as pedras do seu caminho, lhe ajudou a levantar e caminhar com as próprias pernas... Calvin não pedia devoção, nem adoração eterna pelo que fez, pois fez de bom grado, sem esperar em troca, mas queria apenas ser reconhecido. Porém quando a felicidade finalmente chegou, Calvin fora novamente esquecido na página anterior, e as novas páginas foram completadas por novas amizades, com quem a felicidade fora dividida.

Muitas coisas acontecem em nossa vida, amigos vem e amigos vão, mas não podemos, nunca, esquecer os bons e fies, aqueles que estão ao nosso lado nos nossos piores momentos, que não nos virão as costas quando cairmos. Mas no entanto, insistimos em achar que quem nos ama, nos amará para sempre. Talvez isso realmente possa ser verdade, as pessoas não deixam de amar, mas o amor é como uma nuvem, nem sempre ela será grande e densa, pois pode chover e ela deixará de ser nuvem, sua essência permanecerá água, mas já não mais nuvem. É assim com os sentimentos,eles crescem, se tornam sólidos, mas se não alimentados se desnutrem.

Em sua memória tornaram momentos quando Calvin a procurou, ela nunca pôde atende-lo, nunca tinha tempo, nunca tinha como, nunca tinha NADA... para ele. Calvin não a condena por preferir a companhia de outros, pelo contrário, se via feliz em sua felicidade, era confortante ver Cler com aquele sorriso lindo no rosto, os olhos brilhando de felicidades, Calvin queria apenas ser lembrado, queria apenas um pouco de atenção. Cler minha doce Cler...é uma fato e a mudança já aconteceu a muito tempo, já não é mais a doce Cler.

Mas não há arrependimento no que foi feito, Calvin não se arrepende de secar suas lágrimas, de dar o ombro para seu pranto e nem te apoiar para não cair. Tudo foi feito de bom gosto e com o maior carinho do mundo. Mas é hora de admitir que já não faz mais parte de sua vida, já não é à ela visto com os mesmos olhos.

- “Talvez você tenha sido passado de página velho Calvin...

Mas as páginas passadas, mesmos passadas e esquecidas ainda fazem parte do livro. Faça o bem e não espere o bem. A essência do bem é o amor, e mesmo que alguém não te ame tanto quando você o ama, não significa que não ame... Estamos aqui para amar, pois o amor nos une, pode nos separar, mas jamais nos fará triste.

quinta-feira, 31 de março de 2011

A felicidade quer você AGORA.

O calor era infernal, todos os possíveis cantos da cama já haviam sido percorridos, mas nenhum era agradável suficiente. As pálpebras permaneciam fechadas, mas o olhos atentavam ao vermelho por trás da pele, e a agonia era complementada por indícios de asía causados pela insônia, nada estava certo, tudo parecia perturbador quando finalmente os olhos abriram e para a sua infelicidade o relógio marcava exatas 4:03 da manhã, nada mais insuportável poderia acontecer a Calvin nesse exato dia.

Durante 10 minutos as falidas tentativas de voltar ao sono ainda foram executadas, mas em vão, a pequena Shitsu preta e branca, Jade, já lhe olhava com cara de confusão. Como toda boa idéia sempre surge em um estalo, Calvin se levantou, apanhou cueca, bermuda e camisa, vestiu as peças em fração de segundos, penteou os cabelos e calçou um par de sandálias, pôs a coleira em Jade e apanhou a chave do carro. Dirigiu até a praia mais próxima, o dia ainda estava escuro e o mar se encontrava negro, Calvin desceu do carro e caminhou até a areia onde se sentou. Tudo parecia mais leve, mais tranqüilo e a brisa raspava seu corpo da forma mais gentil possível. Naquele momento todo o estresse da noite fora embora e deixara espaço à calmaria e a tranqüilidade do céu estrelado.

Não demorou muito à Calvin refletir sobre aquilo, mas ele preferiu deixar a reflexão de lado e apenas sentir a felicidade, pois felicidade é um sentimento momentâneo, se você consegue compreende-lo é porque já não se trata mais de felicidade e sim de lembrança. Mas independente de você estar acompanhado dela nesse momento ou não, ela virá, não importa o tamanho do problema ou a demasia da solidão, a felicidade te aguarda pronta pra arrancar aquele sorriso maravilhoso de seu rosto.

Calvin sorriu, um sorriso largo, sem cantos, daqueles que mostram as covas na bochecha, aqueles que franzem a testa, revelam as rugas, mas trazem a tona um brilho fascinante ao olhar, um lágrima escorreu por seus olhos, passou ao lado do nariz e posou em sua boca, trasbordando-a com seu gosto salgado que naquele instante tornou-se o melhor gosto do mundo. Por fim um sentimento de gratidão.

Grato por tudo que ele tem na vida, seus amigos que tanto o amam, seu familiares dos quais te enchem de orgulho, mas muito mais, grato à vida, por ser tão generosa e nos permitir momentos inesquecíveis, mesmo que os quais não durem para sempre, mas conviver com eles em memória é um fado maravilhoso que se tem a carregar. Todos os dias pela manha as pessoas acordam e nem ao menos percebem o bem que estar sendo lhe dado, mais um dia, mais algumas preciosas horas para viver, mas o que você faz com isso? Deixa o tempo passar, prefere guardar sentimentos e problemas à expor e tentar ser feliz... não tente ser feliz, seja feliz agora, agradeça pelo dia que você teve, pois tempo é a coisa mais preciosa que temos... Quer ter certeza? Pergunte a um estudante que perdeu no vestibular o valor que tem um ano, pergunte a uma mãe que teve o filho prematuro o valor de um mês, pergunte a um editor de revista o valor de uma semana, a um pedreiro que ganha por dia e tem 4 filhos pra criar o valor de um dia, o valor de uma hora para quem espera por um namorado ou namorada, de um minuto a quem perdeu o avião ou de um segundo para quem acabou de escapar de um acidente. Aproveite cada segundo, não deixe pra depois.

Então olhe a sua volta e veja quantas pessoas que te querem bem, se não são muitas olhe a intensidade das poucas, se você acha que não há ninguém, você está enganado, há alguém muito superior a todos nós que nos ama mais que tudo, ele te acompanha em todos os lugares e nunca vai te deixar só. A vida é tão linda pra se abster de fazer o bem devido ao mal, faça o bem, viva bem e seja o bem, não deixe que nada te abale, diga “eu te amo” à pessoas que você ama, nunca será demais. Os bons são maioria.

O sol já havia nascido e o barulho dos carros cruzando as ruas já podia ser ouvido, Jade, que cansara de brincar correndo atrás de um siri, agora repousava a cabeça ao colo de Calvin. Ele dirigiu de volta pra casa, tomou banho e hoje deixou de lado o terno e a gravata, vestiu uma camiseta branca com um jeans surrado, tirou da gaveta os óculos Rayban no estilo aviador e seguiu à agencia publicitária para mais um dia de trabalho, nem o trânsito ou o calor te incomodaram, tudo estava exatamente agradável hoje. Logo no estacionamento encontrou Ricardo, seu amigo e sócio na companhia, um rapaz alto, de cabelos negros penteados com cera, sua pele era bem branca e seu rosto muito bonito.

- Bom dia. – Disse Ricardo.

- Maravilhoso dia... – respondeu Calvin.

- Parece que alguém acordou de bom humor hoje! – Ricardo exclamou em um tom pouco animado.

- Ao contrário de outras pessoas que parecem estar mais carrancudas do que nunca – Calvin disse em tom brincalhão, quebrando o gelo da manhã.

Por todo o elevador Ricardo falou sobre os problemas que o assolavam, Calvin os ouviu e apenas confirmava com a cabeça, desembarcam em seu andar, quando Calvin fez a sutil pergunta:

- Ricardo, hoje fez sol ou está nublado?

O rapaz pareceu um pouco confuso, mas logo entendeu o que o amigo quis dizer, olhou pela janela e viu o sol lindo que fazia, daí se deu conta do quanto deixou as complicações afetar o seu dia e que nem ao menos notou que dia maravilhoso a vida o presenteou.

terça-feira, 22 de março de 2011

Um dia à praia.

E num simples piscar de olhos, era impressionante a dimensão que aquela imagem tomava diante de seus olhos, um profundo abismo tomava conta de seu globo ocular e nada além do breu era visualizado. Aos pouco a luz tomou forma e clareou à Calvin o que não era imaginável, a praia tomava forma e ele podia sentir a areia e o vendo chamuscando sua pele, o cheiro de maresia era narcótico por suas entranhas, seus cabelos rechicoteavam em sua face enquanto caminhava sem rumo no novo caminho que lhe aparecera, o andar era sem rumo e a idéia era vazia, não havia sentido naquilo.

A memória insistia em trazer fatos antigos à tona, mas tudo não parecia ser mais do que ilusão mesmo quando o saber da verdade era presente em sua lembrança. Um pensamento lhe ocorreu naquele instante e as palavras proferidas pelo exacerbado andarilho, trajando pantufas e um hobby na cor marrom-tijolo, à praia fora tais:

- Estou só!

Aquele pensamento era ácido, corroia a virilidade e o orgulho do ser mais interno que poderia existir, Calvin sempre rodeado dos mais belos amigos e dos sentimentos mais maternais possíveis não findava sua busca em reconhecer seu próprio ser.

- Só jamais... Enquanto houver lembrança não haverá solidão à Calvin Von Sneaker. – proclamou a voz oriunda de um rapaz moreno, de fartos lábios e cabelos lisos, feições similares à Calvin, que apesar de nunca ter o visto, aquela voz te soava confortante a familiar. O rapaz vestia uma camisa preta em gola V, uma calça skinny e trazia tênis brancos sendo carregados pelos cadaços, seus cabelos estavam assanhados e suas olheiras eram detalhadas, mas não pelo vendo, a imagem era de alguém que acabara de amanhecer de uma noitada em Ibiza.

- Quem é você? – Pergunta Calvin ao rapaz.

- Eu sou você Calvin, o seu “eu” verdadeiro, aquele que realmente existe em meio ao seu caricato e exacerbado modo de ser, o detentor de suas ideologias e... – uma pausa seguida de um suspiro refletia um encontro já esperado por parte do rapaz. - ... o seu criador Calvin, o corpo do qual você representa a alma.

- Eu morri? - A expressão de Calvin era veemente.

- Não. Partindo de um pressuposto que você nunca viveu.

- E o que te leva a dizer isto? Você é Deus? E o que você realmente sabe sobre a vida? Como sua alma, imagino que eu seja o concreto dos seus desejos mais profundos e a alusão aos seus sentimentos mais exagerados... – Calvin tomava em sua voz novamente seu sentimento de prepotência, do qual era sua marca registrada.

- Se quiser sentar ao meu lado, talvez possamos conversar... existe muito entre eu e você dos quais sabemos, mas precisamos realmente enxergar.

Calvin lentamente caminhou na direção do rapaz, sem tirar os olhos do mar, sentou-se ao seu lado e pegou em seu bolso um maço de cigarros, pegou um único e acendeu. – Você não fuma. – Calvin afirmou ao rapaz.

- Como sabe?

- Pelo simples fato que detesto cigarros, fumo-os apenas por achá-los interessantes, mas não trago, pois não me sinto bem com vício, e estes cheiram aos vinhedos de Malbec.

- Sagaz pensamento...

- Sensato seria o adjetivo correto. – Calvin afirmou enquanto se formava um sorriso de canto em seu rosto, quebrando o gelo e o clima fúnebre da praia nublada, na qual os dois indivíduos se encontravam sentados á areia fria.

- Te elogiar não é um bom passo, eu mais do que tudo sei disso, Calvin é egocêntrico demais para não comover-se com um afago verbal.

- Porque disso? – Calvin indagou de repente.

- Disso o que?

- Esse encontro hoje? Porque hoje e não amanhã ou ontem... o que tem de especial em hoje? O que significa exatamente a quebra dessa barreira entre criador e criatura?

- Muitas perguntas e poucas respostas meu caro, mas nunca é tarde para a liberdade, somos muito mais do que criador e criatura, somos um único Calvin. E o hoje é o mais importante que temos, pois ontem é apenas memória e amanha é apenas sonho. Mas se você quer uma resposta apenas olhe para frente e me diga o que você vê.

Naquele instante uma onda melancólica atingiu em cheio o peito de Calvin, um sentimento nostálgico do qual ele não sabia expressar exatamente o porquê, preencheu seu peito e deu um nó em sua garganta, diante de seus olhos encontravam-se tudo que mais intrigava Calvin em vida: O Mar, aquilo tão incerto, tão subliminar e tão adverso preenchia seus olhos de leste a oeste. Apenas mar e areia.

- Você vê o mar Calvin?

- Não – Uma pausa acentuou-se em sua voz - ... Eu vejo a vida. Vindo e voltando num movimento com freqüência quase exata a minha respiração, trazendo areia e levando areia, quebrando nas pedras e unindo-se novamente em seu retorno, horas revolto e cheio de espuma e em instantes calmo e trepidante em ondas, mas não deixa de ser mar, não deixa de ser vida.

- Calvin, durante muito tempo você tem sido a minha válvula de escape, o meu ponto de equilíbrio e a minha luz, mas nos últimos tempos você me deixou, me deixou que eu vivesse afogado em felicidade e diversão sem sentidos, eu senti sua falta. Mas hoje eu sinto que você vive em mim, não apenas como um fruto exacerbado do meu eu, mas como eu... assim como eu você sente falta do passado, mas você precisa entender que ele jamais deixará de fazer parte de você, seu passado está impregnado em seu caráter e em sua personalidade, mas você não pode deixar que isso te impeça de viver coisas novas, o mundo precisa de você, precisa que você viva, independentemente de problemas e possíveis erros, caminhar é necessário e chega a hora de deixar um pouco de lado o nostálgico.

- O que você entende por liberdade? Justo você que é tão apegado ao passado vem me dizer que eu preciso deixar o passado? Você que guarda bocais de canetas, pois tem pena de esquecê-los... Isso é uma forma de dizer pra si mesmo o que precisa fazer? È necessário escrever mais e mais contos para desabafar? Viva você... Esqueça o mundo, esqueça tudo, siga em frente e não me use mais pra tentar chegar em um ponto seu. Você é o senhor de suas vontades. Não precisa de mais um pseudônimo pra ser o que quer.

O rapaz sorriu, aquilo parecia finalmente fixado em sua mente, seus olhos brilhavam em brasa novamente, era como se a felicidade pudesse ser vista a flor das vistas. O sol se abriu, em poucos instantes o rapaz desapareceu e Calvin percebeu que ele não estivera, de fato, ao seu lado e que a voz que o mesmo escutava não vinha de lugar nenhum a não ser oriundo de sua boca. Suas vistas se tornaram vermelhas, num passo tudo estava vermelho e sem forma, quando as pálpebras se abriram e a janela deixara a luz do sol entrar na sala do apartamento, Calvin encontrava-se com o mesmo hobby marrom-tijolo, os óculos apoiados ao nariz e em seu peito jazia aberto o exemplar de o Ensaio sobre a Lucidez de José Saramago.

O telefone tocou em questões de instantes, Calvin caminhou até ele e o atendeu.

- Call... já ti liguei milhões de vezes... onde você estava? – A voz mais que reconhecível de Jude era tenaz em seus ouvidos, certa felicidade repentina bateu em seu peito, ele não respondeu, sentou-se no sofá e num relance viu suas pantufas, estavam ao lado do móbil. Um suspiro e voa lá, elas estavam completamente cobertas de areia.