segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

De volta à praia.

Os pés tocavam a areia fofa, que aos passos se moldavam a forma do pé, contornando de forma suntuosa e por vez ao retirá-los, marcavam as pegadas indicativas de que alguém havia passado por aquele exato local.

Aquele lugar não lhe era estranho, intimamente tinha a sensação de que já estivera ali antes, não sabia ao certo dizer quando, mas aquela areia e os coqueiros a vista no horizonte, traziam a Calvin uma paisagem da qual ele reconhecia. Os olhos insistiam em percorrer o local enquanto sua mente buscava em seu acervo memorial algo similar a aquela vista. Aos poucos o jovem alto e de cabelos negros caminhava sobre a praia sem rumo ou direção definida, mas espera um pouco... Acho que este trecho já foi escrito, não?

Os passos cessaram diante da imensidão de areia que existia a sua frente, aquele local era mais do que familiar, suas areias ainda carregavam as energias do 19 de março. Por um momento Calvin direcionou seu olhar ao horizonte, o mar carregava um tom de azul-anil de tirar o fôlego, ao contrário daquele dia o céu não carregava seu tom cinza da paisagem nublada, o sol brilhava e fazia arder a nuca daquele rapaz que jazia como bobo, sorrindo, parado em meio a imensidão, contemplando a brisa que fazia seu cabelo rechicotear em seu rosto. Havia algo além daquele sorriso, naquela face, seu olhar trazia um brilho intenso, que apenas uma alma tão humana poderia expressar, trazia um tom vivo e límpido do qual seu alter-ego jamais havia provado.

De repente, uma pontada lacerante atingiu Calvin na nuca, em reflexo sua mão guiou ao local onde logo palpava-se um inchaço, seu pescoço torceu quando seu ouvidos escutaram uma voz que logo foi identificada a quem pertencia.

- Atitude boba essa de ficar olhando o mar e sorrindo velho amigo! – O garoto moreno que um dia encontrou-se naquele local, agora encontrava-se sentado em uma pedra alta, com as bermudas dobradas nas barras, uma camiseta regada e um óculos escuro, com as pernas balançando de um lado a outro soltas no ar e tacando pedras no horizonte, como a que acabara de atingir Calvin na nuca.

- Creio que aprendi a ser bobo com certo alguém... Não acha? – Respondeu Calvin em aspecto de alfinetada.

- Então vejo que finalmente aprendeu algo de útil. (risos)

- O que traz a sua figura tão ilustre aqui hoje?

- O mesmo que me trouxe da última vez dear Calvin... As circunstâncias. – Por um instante Calvin teve a impressão de que o garoto olhava para outro local, virou o rosto para observar.

A alguns metros dali, pequenos pontos negros começavam a brotar em meio a areia clara. Pequenos filhotes de tartaruga agora saiam de seus ninhos e se arrastavam na direção do mar, como pequenos grãos que rolavam em meio a imensidão da praia, aquelas coisinhas tão esquisitas e desengonçadas agora partiam para encontrar a água. Não demorou muito para que em instantes toda a areia se cobrisse de pontos negro que caminhavam na mesma direção, como uma marcha que tendiam a alcançar seu objetivo.

- Consegue ver além das imagens Calvin?

- Pequenos seres que caminham ao horizonte?

- Sim Calvin, pequenos seres que caminham ao horizonte... Sabe quantos deles chegaram a vida adulta?

- Menos de um por cento.

- Lamentável não é mesmo?

Calvin preferiu não responder, por um instante desejou ouvir a reflexão do velho amigo.

- Não Calvin, não é lamentável. Independente se todos alcançarão seu objetivo ou não, é possível ver a intensidade com que essas pequenas tartarugas correm na direção do mar, a vontade da qual elas se inundam e se banham na intenção de viver. Elas mal sabem o mundo que as aguardam, um mundo frio, injusto, mas no qual sua doce inocência ainda espera que as acolham de forma quente e com afagos. Mas uma coisa Calvin, ainda assim elas querem viver, eles correm para viver e elas lutam para viver. Predadores? Esses realmente não faltaram, mas quem foi que disse que a vida tem que ser linda pra ser perfeita? O que mais importa neste momento é a força e a paixão que as motiva, viver é acima de tudo um ato de vontade, é preciso querer muito para ter algum resultado, mesmo que não o resultado do qual você aguarda ou espera, mas saber que no final você poderá olhar pra trás e contemplar os momentos pelos quais você passou, e agradecer por cada aprendizado que a vida lhe deixou. E fazer das cicatrizes das suas quedas pontos fortes para encarar novas quedas. O tombo é bom, balança as estruturas do ser, viver nas nuvens é leve demais, bom mesmo é caminhar, calejar os ossos, fortalecer as articulações, fazer o sangue correr nas veias e se sentir vivo... Você se sente vivo Calvin?

- Prefiro ficar em silêncio. Responder seria um sacrilégio à vida que habita dentro de mim, pois o real sentido da vida é não haver resposta, cada passo constitui-se de uma nova descoberta, se você sabe todas as respostas, pra que viver então?

Mais uma vez, num piscar de olhos aquele velho amigo não estava mais ao seu lado. Decidiu então continuar a caminhar, sem rumo, para quem sabe de surpresa, no caminho ele encontrasse algo de interessante.

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