quarta-feira, 25 de maio de 2011

Morra jovem ou viva para sempre.

Sábado pela manhã, o dia comum à faxina, dia de arrumar a casa, por tudo em ordem para uma nova bagunça. Transcendente o pensamento de limpeza, para logo o cheiro do limpo começar a invadir o ar, deixando tudo com cara de novo, pronto a viverem novas coisas e a serem desorganizados novamente.

Nada mais que uma manhã é necessária, acordar as oito e após o café começar. Se tudo ocorrer bem, antes mesmo do almoço estará em completa e perfeita ordem, se apenas uma coisa não ocorrer. Se por um acaso, você separar alguns objetos dos quais levará à dispensa, onde já se encontram pilhas de objetos descartados, mas dos que você ainda guarda um sentimento muito forte - sim as coisas possuem sentimentos - aquela jaqueta velha com cheiro de guardado que o diga, nos enche de remorso à jogá-la fora, aquela jaqueta que nos protegeu do frio por tanto tempo, quente e acolhedora... Deixemos a jaqueta de lado e tornemos o foco pro real empecilho. Então por um acaso, um mero acaso, você encontrará uma caixa guardada, rotulada com a palavra certa para acabar com o cronômetro da sua faxina: “Fotos”.

Você não conseguirá resistir, em instantes arrastará a caixa para sala, ao abrir será inundado por inúmeros álbuns para decidir qual olhar primeiro, percorrerá alguns até achar aquele que lhe trará lágrimas, encharcando suas pálpebras de emoção, o álbum do colegial, rever as fotos dos tempos de ensino médio, rever rostos, dos quais sua mente já não recordava a muito tempo, será doloroso, mas prazeroso, também nostálgico. Tantos rostos felizes, tantos sorrisos estampados, olhares sinceros, juventude transbordando nas cores da fotografia. Bons anos, talvez os melhores anos.

Mas além das lembranças, dos amigos perdidos pelo tempo, da vontade de viver tudo outra vez, o que mais te corroerá será sua própria mudança. Enxergar o quando você mudou não será fácil, talvez seja a tarefa mais difícil. Tantos sonhos, vontades e exigências deixadas para trás, ver o quanto foi perdido de sua adolescência, perceber o quanto a vida te fez pessimista. Sentiremos falta do desejo de mudar o mundo, perceberemos o quanto deixamos que os problemas e as desilusões nos fizessem desacreditar no poder de mudança, estaremos mais resistentes a mudanças e quando não acreditamos nela, deixamos de acreditar nas pessoas.

Com tudo isso, deixamos de acreditar em nós mesmos, deixamos sonhos serem jogados ao vento por medo de tentar, nos acomodamos a viver como a vida nos levou, mas esquecemos de que fomos nós que construímos a vida, quando somos adolescentes, acreditamos que tudo pode ser alterado, que com esforço poderemos superar todas as pedras no caminho, mas no caminho aceitamos desvios por preguiça de tentar retirar as pedras de sua frente. Moldamos-nos à sociedade, deixamos de ver que ela tem a obrigação de moldar-se a nós, nos tornamos escravos do capitalismo, perdemos o desejos de igualdade e de melhorar o mundo, buscaremos apenas a ascensão própria, nos dedicaremos fervorosamente ao trabalho e muitas vezes iremos esquecer de ser felizes.

Repreenderemos os jovens, chamando-os de sem sentido, recriminando seus gostos e criticando suas atitudes como irresponsáveis, jovens têm que ser irresponsáveis mesmo, aproveitar até que a vida não lhe transformem em pessoas frias, mesquinhas e egoístas. Todavia iremos esquecer o quanto era bom ser irresponsável, o quanto era bom não ter sentidos, ser rebelde apenas pelo fato de ser do contra, e o quanto era ruim ser repreendido pelos mais velhos, no entanto faremos o mesmo. “[...] você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo, são crianças como você. O QUE VOCÊ VAI SER, QUANDO VOCÊ CRESCER.”

Talvez felizes sejam os que morrem jovens ou os que descobriram o caminho para a Terra do Nunca, crescemos tanto que perdemos o sonho de voar com Peter Pan e Wendy, viajando pelos céus para viver pra sempre, já que não podemos viver para sempre, diremos muitos nunca, perderemos a frase “nunca diga nunca” que tanto proferíamos quando jovens. Envelhecer sem um propósito é como sacrificar um cavalo inútil, a juventude é preciosa como um diamante, mas a vida nos faz vende-la devido ao seu alto valor.

Vamos ver anos simplesmente passarem e as rugas aparecerem, e nada faremos para realizar aqueles sonhos mais internos, tão internos que você nem se lembra mais, mas eles ainda estão ali, alimentando as lembranças, mas não mais prontos para serem realizados, não por serem impossíveis, mas por seu dono não julgar-se mais capaz de torná-lo real. Mataremos o desejo sem piedade, friamente como um serial killer, e como tal marcá-los-emos para que mais tarde nos corroa por sua não presença. O ser humano além sadista é também masoquista, gosta de provocar a dor própria.

Depois da enxurrada nostálgica, você se dará conta de que nem tudo ainda esta perdido, as coisas podem ter um novo começo, mas logo deixará de lado, pois você já não acredita mais na mudança, perdeu a fé nas pessoas, perdeu a juventude. Estará mais forte, mas eles não te chamaram de liberdade, e você não será uma bandeira trepidando ao vento.

sábado, 7 de maio de 2011

Bad Reputation.

Era um sábado a noite, como manda a regra, Calvin se aprontava para a noite, que pelo visto prometia ser maravilhosa. Tomou banho e logo se deparou com o dilema frente ao guarda roupa, perguntando-se o que vestiria, optou por fim a um jeans skinny, básico, um All Star branco, uma camisa também branca com desenhos de fones de ouvido caído envoltos ao pescoço e usou uma camisa de botão, azul-xadrex, como colete, borrifou um pouco de seu perfume, Kouros, e logo seguiu para o carro.

Chegando à boate, alguns amigos já aguardavam do lado de fora, reconheceu alguns rostos conhecidos e pessoas do ramo de entretenimento, alguns lhe chamaram bastante atenção e algo indicava que essa noite não seria apenas mais uma noite. A festa começou. Conversas, risadas e entre tudo inúmeros copos de roskas, dos mais variados tipos de frutas exóticas, a energia do local era contagiante, o papo agradável e os flertes eram fortes, por longas horas o estado de êxtase tomou conta dos presentes, junto com ele alguns excessos. Por volta de algumas horas a demasia de álcool acabou afetando alguns, inclusive Calvin.

Porque o problema? Isso é apenas diversão e talvez não haja nenhuma conseqüência; Talvez. A beberragem fora suficiente para que depois de algumas horas o publicitário iniciasse alguns vexames, as vestimentas rasgadas e os pés descalços deturpavam a imagem de executivo presente em seu porte, cenas de beijos quentes, fala alterada e por fim Calvin não tinha mais controle sobre si mesmo. Alguns amigos o levaram para fora da festa, a qual já se encontrava em presença de alguns fotógrafos, Calvin não tinha condições de dirigir, mas acabou fazendo-o, a poucas quadras do local, bateu o carro e logo estava prestando depoimento numa delegacia. A noite fora longe demais.

Diversão é ótimo, mas quando se possui controle sobre o que se faz, responsabilidade é algo que deve estar presente na vida de todos. Muitas vezes as pessoas se deixam levar por presença e influência de outros, exageram em brincadeira e utilizam de alguns artifícios para complementar sua diversão, mas sem controle: a diversão pode acabar se transformando em preocupação.

No domingo, a notícia estava em vários jornais, “Publicitário abusa de bebida e causa acidente.”, acredite, essa foi a mais comportada manchete, alguns mais sensacionalistas acusavam até mesmo o uso de substâncias ilícitas. Não era verdade, mas e daí? Eles não estão preocupados com isso, ou melhor, as pessoas não se preocupam com os meios, na maioria das vezes apenas o fim será analisado. E sim, elas utilizarão dos meios mais sórdidos, se for preciso manchar a imagem de alguém ela será manchada, todos querem ver a sua queda, pessoas não estão acostumadas a lidar com a felicidade do outro. Elas irão assistir sua queda, rir da sua queda, e depois fingirão que nada aconteceu, mas sempre estarão ali para jogar na sua cara mais uma vez. E não importa qual a reputação que você tivera antes, eles ligarão apenas para a que você tem agora, e um único e pequeno fungo será suficiente para estragar toda a fruta já colhida.

Na segunda-feira pela manhã Calvin seguiu para a agência, alguns repórteres estavam posicionados na entrada, entrou pelos fundos, em silêncio e seguiu para a sala de reuniões onde acionistas e diretores o estavam esperando, seu coração palpitava no elevador, ele sabia exatamente o que irão propor, não sabia se estava disposto a isso. Ao entrar na sala o semblante de todos era de seriedade, nenhum sorriso, nenhum comentário, completo silêncio. Calvin não os cumprimentou, caminhou até sua mesa e olhou para Ricardo, o mesmo desviou o olhar para baixo. Sentou-se em seu lugar e em sua frente encontrava-se sua carta de afastamento temporário. Foi um baque, a realidade foi dura e o acertou em cheio no peito, era sua empresa, a qual ele ergueu e tocou em cada tijolo ali colocado. Olhou novamente à Ricardo.

- Eu não vou me afastar! – Disse em claro e bom tom.

Os murmúrios irromperam pela sala.

- Você precisa Calvin, pelo bem da agência... – Ricardo demonstrava em sua fala o seu tom de lamento.

- Não. Eu sou dono disso aqui , não vou abandonar o que eu construir pelos outros, todos conhecem o quanto somos profissionais e o quanto somos competentes... você esteve comigo durante todo esse tempo, sabe quanto demos duro para construir o que somos hoje... – logo fora interrompido.

- Você conhece o entretenimento melhor que muitos de nós Calvin. Imagem é tudo, e a sua está manchada. – Julian, uma das acionistas, se proferiu em relação a posição de Calvin.

De fato, era verdade, uma imagem vale mais que mil palavras, não é a toa tal provérbio, tudo depende disso, as pessoas precisam disso para lhe respeitar, é para o seu externo que elas irão olhar e se algo estiver errado ou diferente, irão lhe julgar sem piedade, não se colocarão em seu lugar, ele não querem saber o que você passa e nem o que você sente, seu único interesse é a opinião própria, precisam de uma imagem pra admirar, pra alegrar, pra entristecer, pra pisar. Todos buscam isso, todos querem isso, querem a sua imagem, mas o que não restringe que eles apenas liguem para a própria, de jeito nenhum, o melhor entretenimento deles é ver a imagem do outro, a vida alheia é muito mais interessante que a sua e esse, talvez, seja o problema, preocupar-se demais com os outros e esquecer de si próprio, Maria Madalena estava prestes a ser apedrejada quando Jesus disse que atirasse a primeira pedra aqueles que não tinham pecado. Ninguém atirou, mas todos queriam. Pare um pouco, viva mais a sua vida e deixe os outros viverem as deles, se cada um se preocupasse menos com a vida do outro talvez o mundo fosse um lugar melhor, com mais respeito, mas liberdade, mais justiça, no entanto as pessoas preferem deliciar-se com os devaneios alheios, uma peça de teatro da vida real, um reality show pronto para audiência a todo o momento. Respeite-se mais, você vale mais que os outros.

A reunião prosseguiu, e Calvin como maravilhoso publicitário, conseguiu convencer a todos a aceitarem sua proposta, no dia seguinte, dera uma entrevista esclarecendo tudo que havia acontecido, mas nem tudo era real, Calvin mentira descaradamente para se safar de tudo, convenceu a todos que era inocente enquanto suas mãos estavam sujas de sangue. É errado? É Imoral? Sim, mas é isso que nós fazemos, mentimos, pois por mais que digamos que não ligamos para nossa má reputação, nós ligamos. E faremos de tudo para ser exemplo, para ser o melhor... mas que melhor, o melhor pra você? Não. O melhor pros outros.