quinta-feira, 28 de abril de 2011

Bagunça.

Era um dia bastante comum, Calvin encontrava-se, as 7:30, em seu Volvo preto, parado num enorme engarrafamento à caminho da agência de publicidade. Sozinho, dentro do carro, cansou de escutar o locutor da rádio falando inúmeras coisas sem sentidos e bordões démodé. Resolveu colocar uma música, abriu o porta luvas e apanhou o porta CD’s, entre eles: Goodbye Lullaby, Riot!, Funhouse, Back to Black, 21, mas nenhum deles conseguiu lhe chamar atenção hoje, decidiu então apanhar uma coletânea de mp3 que havia feito essa semana com inúmeras músicas. O CD começou a tocar, mas não conseguiu encontrar a pasta certa, nenhuma te agradava ou não era o suficiente, até que uma idéia veio bem rápida.

Mecheu um pouco nas configurações do som procurando uma função específica, tinha que ter, tinha que ser assim, até que finalmente conseguiu ativar o modo de reprodução aleatória, e as faixas ficaram completamente emboladas, sem nenhuma cronologia, sem nenhum modo de reprodução exato e padrão, uma bagunça, uma mistura, um emaranhado, um bucado de tudo e um pouco de nada, porém exatamente perfeito, na sintonia.

-É isso... – repetiu para si mesmo.

Uma bagunça, uma mistura, sair um pouco da vida certinha e planejada de sempre, abandonar a cronologia dos compromissos e a ordem da agenda, fazer tudo virar uma bagunça. Quem sabe no emaranhado, por acaso, você não encontre o que realmente deseja. Quando se planeja também se extingue a oportunidade de coisas darem errado, e sem erros não á aprendizado, fora dos planos não há surpresa, não há descoberta e sem descoberta não há vida...

CARALHO, MERDA, PORRA, INFERNO... Palavrões, feios, horríveis, indiscretos e nada educados, mas porque não proferi-los se é o que a raiva pede? Porque as pessoas acham feio? Que fodam-se as pessoas, quem te ama será feliz contigo, e convenhamos que fora da rotina fica bem difícil encontrar essas pessoas, elas sempre aparecem nos momentos mais bagunçados possíveis, e se não, se tornarão os melhores amigos e os melhores companheiros quando o momento estiver mais conturbado. A vida é feita de momentos, avulsos, seguidos, sem cronologia... Porque querer contradizer a ordem natural das coisas então?

Vamos fazer diferente um pouco, vamos mudar, fazer tudo que der vontade, sem precisar repreender nada, extravase, fure o balão, deixe o ar escapar depois respire novamente e sinta o mundo, tente abraçá-lo mesmo sendo impossível, mas tente, tente e tente. Tente arrumar a bagunça, mas sempre deixe um pouquinho, uma vida certa e arrumada não tem graça, tudo que é estranho será notado, sendo que o melhor é ser pego de surpresa, se não fosse, você sentiria cócegas quando faz em sim mesmo, no entanto só faz efeito quando outro faz, e se não faz, finja que faz, não há nada de errado em fingir de brincadeirinha, sem compromisso, gostoso como uma noite com alguém desconhecido e de preferência bêbado, sim, para que não falte coragem de fazer nada, deixe a bagunça tomar conta.

Remexa tudo, mergulhe fundo em meio ao turbilhão, talvez lá você encontre a tão procurada felicidade, que todo mundo procura, mas não entende que é ela que te acha. Vá, deixe ela se mostrar, desembrulhe-a da folha de papel amassado, admire-a, veja como pode ser linda, veja como se encaixa perfeitamente com você.

No meio do caminho Calvin resolveu fazer um percurso diferente, foi para a ‘praia’, mas praia, sempre praia, toda vez tem praia, mas a praia nunca é a mesma, o mar nunca vai estar no mesmo lugar, a areia não estará da mesma forma, e o sol brilha em intensidade diferente, se acaso esteja igual, o dia é diferente. Entenda o que digo: todos os dias são novos, e nunca é tarde para fazer uma nova bagunça e tentar agir de forma melhor.

E não há nada melhor do que percorrer a bagunça, achar pacotes de biscoito velhos, cartinhas, canetas, papeis e cadernos antigos, carregados de lembranças de uma vida, páginas passadas que fazem tanta falta, ou não, mas jamais serão esquecidas e sempre ajudarão a completar a bagunça, ocupando espaço e dando trabalho, mas que bagunça gostosa e sem sentido, mas pra que sentido? O bom mesmo é interpretar...


terça-feira, 19 de abril de 2011

O bom amigo à casa torna.

Eram 7:32 da noite, Calvin acabara de fazer os sashimis e bolinhos de arroz para servir as visitas, tomara um banho e agora escolhia as melhores peças a vestir, fez a barba e se aprontara para jantar em alguns instantes. A campainha não tardou a tocar e quando a atendeu ela estava lá em sua frente, os cabelos não mais longos na cintura, cortados na altura dos ombros, lisos e com a franja em cima da testa, um vestido estampado e leve contornava sua linda pele branca e macia, um sorriso no rosto e olhos carregados de maturidade em lugar de inocência.

- Clarice... que saudade! – disse Calvin abraçando-a, sentindo seu aperto e um sentimento de que tudo estava bem, era confortante reencontrá-la.

- Call, que falta sinto sua.

- Não aparenta, abandonou-me ao vento... – disse Calvin em tom brincalhão, era impressionante que todo o ressentimento que tinha com Clarice de repente desaparecera, era impossível ficar triste com ela por perto.

Os dois entraram, Calvin foi até a adega e escolheu por um Hermitage La Chapelle da safra de 1961, serviu-se e os dois começaram a conversar. Durante a conversa foi inevitável perceber que por tudo que houvera acontecido, a amizade entre os dois ainda era forte, talvez seja porque amigos são para sempre, e não importa o que aconteça, eles devem estar sempre ao lado, prontos para lhe estender a mão e lhe ajudar, isso é ser amigo.

Durante o meio tempo, Calvin entendeu que: as pessoas têm seu tempo, precisam de sua independência, tomar suas decisões amadurecer, e não se pode cobrar de alguém que ela esteja sempre ao seu lado, por muito, deixamos de lado alguns, talvez seja o momento, talvez seja necessário, mas uma certeza, isso é vida, ela precisa ser vivida e precisamos entender que cada um tem a sua, é egoísta querer controlar o outro. No entanto lembramos que o outro nos ama, mesmo que não na mesma intensidade com a qual o amamos, mas nos ama e amor é sempre bem vindo.

-...coisas do meu jeito sabe, sei lá, eu me sinto bem. Ver as coisas com clareza fazem eu me sentir mais segura.

Era muito gratificante ver o quando Clarice havia amadurecido durante todo esse tempo, incapaz de não sentir-se satisfeito. Um amigo é uma coisa preciosa demais na vida de qualquer pessoa, não deixe que pequenas coisas possam interferir em uma amizade, mesmo com todos os problemas, o perdão por algumas coisas é necessário, muitas vezes não há exatamente o que ser perdoado e sim o que ser compreendido, mas julgamos tudo apenas por um único e próprio ponto de vista. Se ponha mais no lugar do outro, tente viver e pensar mais como o outro, deseje, ao outro, coisas que deseja a ti mesmo, seja mais compreensivo e passional com os problemas, valorize mais as qualidades e momentos bons.

Conversa vai e conversa vem, a campainha tocou novamente, era Jude que logo entrou em casa, correu ao abraço de Clarice a qual fazia tempo que não via.

-Trouxe vários filmes pra assistirmos após o jantar... pelo visto já começaram o papo sem mim, ninguém lembra de mim, sempre me deixam pra trás, nunca me esperam... – E logo começou a falar, Clarice a ouvia com entusiasmo e Calvin logo teve em memória alguns momentos antigos. Discretamente foi bem próximo as duas e as abraçou de surpresa.

E você? Já disse “eu te amo” a quem você ama hoje?

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Fale o bem, faça o bem, acredite no amor.

O telefone já havia tocado inúmeras vezes, no celular 8 chamadas não atendidas, Calvin tinha acabado de jantar e agora jazia em seu sofá com as belas pantufas e hobby marrom-tijolo, mas hoje definitivamente não iria atender Clarice. Sabia exatamente o que aconteceu e a intenção das ligações, mas hoje não. Hoje ele seria mais Calvin, chega de dar a mãos aos outros na tristeza e não compartilhar da mesma mão em alegrias. É hora de deixar de ser um pouco altruísta e começar a valorizar o que de fato lhe faria bem, não se envolverá mais com os problemas alheios, sem nunca ouvir um obrigado.

Fazia tempos que Calvin ligara para Clarice desde o seu último problema, passou dias em claro e chegou a deixar de lado sua própria vida e problemas para ajudar aquela que lhe chamava de amigo, ajudou-a no seu momento de fraqueza, converteu o problema alheio em seu, comprometendo seu trabalho e sua vida pessoal, lhe estendeu a mão e não foi a primeira e nem a segunda vez. E após todo o turbilhão recebera em troca o esquecimento, lembrado apenas no próximo fado.

Um único sentimento saltava em seu peito, ácido, triste, porém real, era como se fosse apenas um amigo para momentos ruins, aquele que aconselhava, que levantava e que muitas vezes ele próprio tirava as pedras do seu caminho, lhe ajudou a levantar e caminhar com as próprias pernas... Calvin não pedia devoção, nem adoração eterna pelo que fez, pois fez de bom grado, sem esperar em troca, mas queria apenas ser reconhecido. Porém quando a felicidade finalmente chegou, Calvin fora novamente esquecido na página anterior, e as novas páginas foram completadas por novas amizades, com quem a felicidade fora dividida.

Muitas coisas acontecem em nossa vida, amigos vem e amigos vão, mas não podemos, nunca, esquecer os bons e fies, aqueles que estão ao nosso lado nos nossos piores momentos, que não nos virão as costas quando cairmos. Mas no entanto, insistimos em achar que quem nos ama, nos amará para sempre. Talvez isso realmente possa ser verdade, as pessoas não deixam de amar, mas o amor é como uma nuvem, nem sempre ela será grande e densa, pois pode chover e ela deixará de ser nuvem, sua essência permanecerá água, mas já não mais nuvem. É assim com os sentimentos,eles crescem, se tornam sólidos, mas se não alimentados se desnutrem.

Em sua memória tornaram momentos quando Calvin a procurou, ela nunca pôde atende-lo, nunca tinha tempo, nunca tinha como, nunca tinha NADA... para ele. Calvin não a condena por preferir a companhia de outros, pelo contrário, se via feliz em sua felicidade, era confortante ver Cler com aquele sorriso lindo no rosto, os olhos brilhando de felicidades, Calvin queria apenas ser lembrado, queria apenas um pouco de atenção. Cler minha doce Cler...é uma fato e a mudança já aconteceu a muito tempo, já não é mais a doce Cler.

Mas não há arrependimento no que foi feito, Calvin não se arrepende de secar suas lágrimas, de dar o ombro para seu pranto e nem te apoiar para não cair. Tudo foi feito de bom gosto e com o maior carinho do mundo. Mas é hora de admitir que já não faz mais parte de sua vida, já não é à ela visto com os mesmos olhos.

- “Talvez você tenha sido passado de página velho Calvin...

Mas as páginas passadas, mesmos passadas e esquecidas ainda fazem parte do livro. Faça o bem e não espere o bem. A essência do bem é o amor, e mesmo que alguém não te ame tanto quando você o ama, não significa que não ame... Estamos aqui para amar, pois o amor nos une, pode nos separar, mas jamais nos fará triste.