Era um dia bastante comum, Calvin encontrava-se, as 7:30, em seu Volvo preto, parado num enorme engarrafamento à caminho da agência de publicidade. Sozinho, dentro do carro, cansou de escutar o locutor da rádio falando inúmeras coisas sem sentidos e bordões démodé. Resolveu colocar uma música, abriu o porta luvas e apanhou o porta CD’s, entre eles: Goodbye Lullaby, Riot!, Funhouse, Back to Black, 21, mas nenhum deles conseguiu lhe chamar atenção hoje, decidiu então apanhar uma coletânea de mp3 que havia feito essa semana com inúmeras músicas. O CD começou a tocar, mas não conseguiu encontrar a pasta certa, nenhuma te agradava ou não era o suficiente, até que uma idéia veio bem rápida.
Mecheu um pouco nas configurações do som procurando uma função específica, tinha que ter, tinha que ser assim, até que finalmente conseguiu ativar o modo de reprodução aleatória, e as faixas ficaram completamente emboladas, sem nenhuma cronologia, sem nenhum modo de reprodução exato e padrão, uma bagunça, uma mistura, um emaranhado, um bucado de tudo e um pouco de nada, porém exatamente perfeito, na sintonia.
-É isso... – repetiu para si mesmo.
Uma bagunça, uma mistura, sair um pouco da vida certinha e planejada de sempre, abandonar a cronologia dos compromissos e a ordem da agenda, fazer tudo virar uma bagunça. Quem sabe no emaranhado, por acaso, você não encontre o que realmente deseja. Quando se planeja também se extingue a oportunidade de coisas darem errado, e sem erros não á aprendizado, fora dos planos não há surpresa, não há descoberta e sem descoberta não há vida...
CARALHO, MERDA, PORRA, INFERNO... Palavrões, feios, horríveis, indiscretos e nada educados, mas porque não proferi-los se é o que a raiva pede? Porque as pessoas acham feio? Que fodam-se as pessoas, quem te ama será feliz contigo, e convenhamos que fora da rotina fica bem difícil encontrar essas pessoas, elas sempre aparecem nos momentos mais bagunçados possíveis, e se não, se tornarão os melhores amigos e os melhores companheiros quando o momento estiver mais conturbado. A vida é feita de momentos, avulsos, seguidos, sem cronologia... Porque querer contradizer a ordem natural das coisas então?
Vamos fazer diferente um pouco, vamos mudar, fazer tudo que der vontade, sem precisar repreender nada, extravase, fure o balão, deixe o ar escapar depois respire novamente e sinta o mundo, tente abraçá-lo mesmo sendo impossível, mas tente, tente e tente. Tente arrumar a bagunça, mas sempre deixe um pouquinho, uma vida certa e arrumada não tem graça, tudo que é estranho será notado, sendo que o melhor é ser pego de surpresa, se não fosse, você sentiria cócegas quando faz em sim mesmo, no entanto só faz efeito quando outro faz, e se não faz, finja que faz, não há nada de errado em fingir de brincadeirinha, sem compromisso, gostoso como uma noite com alguém desconhecido e de preferência bêbado, sim, para que não falte coragem de fazer nada, deixe a bagunça tomar conta.
Remexa tudo, mergulhe fundo em meio ao turbilhão, talvez lá você encontre a tão procurada felicidade, que todo mundo procura, mas não entende que é ela que te acha. Vá, deixe ela se mostrar, desembrulhe-a da folha de papel amassado, admire-a, veja como pode ser linda, veja como se encaixa perfeitamente com você.
No meio do caminho Calvin resolveu fazer um percurso diferente, foi para a ‘praia’, mas praia, sempre praia, toda vez tem praia, mas a praia nunca é a mesma, o mar nunca vai estar no mesmo lugar, a areia não estará da mesma forma, e o sol brilha em intensidade diferente, se acaso esteja igual, o dia é diferente. Entenda o que digo: todos os dias são novos, e nunca é tarde para fazer uma nova bagunça e tentar agir de forma melhor.
E não há nada melhor do que percorrer a bagunça, achar pacotes de biscoito velhos, cartinhas, canetas, papeis e cadernos antigos, carregados de lembranças de uma vida, páginas passadas que fazem tanta falta, ou não, mas jamais serão esquecidas e sempre ajudarão a completar a bagunça, ocupando espaço e dando trabalho, mas que bagunça gostosa e sem sentido, mas pra que sentido? O bom mesmo é interpretar...